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Na última sexta-feira, dia 28, Belém (PA) foi palco da cerimônia do 6º Concurso Nacional de Cacau Especial, evento que premia os melhores produtores do país nas categorias de variedade única e mistura. A competição não apenas destaca a qualidade sensorial das amêndoas brasileiras, como também reflete a evolução técnica dos produtores diante de desafios como as mudanças climáticas. O impacto do clima foi evidente, especialmente nas amostras oriundas da Amazônia. Segundo Adriana Reis, especialista do Centro de Inovação do Cacau (CIC), muitas amostras apresentaram sinais de germinação, que é um critério eliminatório, além de alta acidez. Entretanto, os lotes de cacau finalistas se destacaram com perfis sensoriais únicos, marcados por notas florais, baixa acidez e complexidade aromática — características que sinalizam um salto na gestão de pós-colheita. “É nítido o avanço técnico dos produtores, que estão buscando mais do que produtividade, mas também excelência sensorial”, explica Adriana. O processo de seleção inclui avaliação técnica dos aspectos físico-químicos das amostras de amêndoas de cacau e análise sensorial do líquor (massa de cacau). Paralelamente, um júri externo composto por jornalistas, chefs de cozinha e profissionais do setor avalia as amêndoas transformadas em chocolate com uma formulação padrão de 70% cacau. Todas as análises são feitas às cegas, utilizando um rigoroso sistema de codificação das amostras.
Destaques
Na categoria varietal, o primeiro lugar ficou com Miriam Aparecida Federicci Vieira, produtora familiar de Medicilândia (PA), que já havia conquistado a medalha de ouro no Cacao of Excellence 2024, realizado em Amsterdã. Miriam descreveu a fermentação de oito dias utilizada em sua amostra como um “erro que deu certo”, mas que resultou em amêndoas com extraordinária complexidade floral. “Somos pequenos produtores e ainda assim conseguimos colocar nossa produção no cenário global. É uma vitória da agricultura familiar”, celebrou. Já na categoria mistura, a vencedora foi Cláudia Sá, da Agrícola Cantagalo (BA), que consolidou a força da Bahia no cenário nacional. “Esse concurso tem sido um objetivo e ele está mostrando que podemos estar entre os melhores do mundo”, diz Cláudia, que voltou ao pódio três anos após vencer com uma variedade BN34 na terceira edição da premiação.
Rondônia também brilhou no certame, com o pequeno produtor Mauro Tauffer conquistando a segunda posição na categoria mistura com seu blend de variedades. Além disso, sua variedade BN34 alcançou o terceiro lugar na categoria varietal, consolidando o estado como um novo polo promissor na produção de cacau especial. O feito marca o retorno de Mauro ao pódio, após sua estreia em 2021, quando garantiu o terceiro lugar com o cacau SJ02. “Um proprietário de indústria de chocolate no Pará comentou que está em busca de cacau de qualidade, com fermentação adequada, e paga até 50% acima do valor atual. Para quem já trabalha com amêndoas fermentadas, como nós, essa valorização é muito positiva”, comemora Mauro, ressaltando a oportunidade que o mercado premium oferece aos produtores que apostam na excelência.
Sustentabilidade e reputação do cacau brasileiro
Mais do que premiar qualidade, o concurso busca reposicionar o cacau brasileiro no mercado internacional, após décadas de impactos negativos causados pela crise da vassoura-de-bruxa.