segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Elias Andreato escreve e dirige espetáculo O Antipássaro, solo protagonizado por Nilton Bicudo que enaltece a poesia de Orides Fontela

O Teatro Sérgio Cardoso, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, recebe a obra teatral O Antipássaro, que traz à vida as palavras profundas e a existência marcante de Orides Fontela, uma das mais notáveis poetas do Brasil. Com estreia marcada para o dia 20 de janeiro, sábado, 18h, o espetáculo promete colocar em destaque não apenas a poesia de Orides, mas também sua visão artística, visando conferir protagonismo ao universo feminino. O espetáculo tem roteiro e direção de Elias Andreato e é interpretado por Nilton Bicudo. Orides Fontela, nascida em São João da Boa Vista (SP) em 21 de abril de 1940, enfrentou desafios notáveis como poeta, sendo frequentemente marginalizada no mundo acadêmico masculino. Sua vida foi marcada por períodos de solidão e pobreza, refletidos de maneira filosófica e profunda em sua obra seca e concisa sobre a vida. A dramatização tem como ponto de partida a vida e obra desta renomada poeta brasileira, cuja importância transcende fronteiras. Antonio Candido e Davi Arigucci Jr. reconheceram desde cedo a radical modernidade e a lucidez cortante de sua linguagem. Orides deixou um legado consistente, publicando volumes incontornáveis de poemas, como "Transposição" (1969), "Helianto" (1973), "Alba" (1983 - vencedor do Prêmio Jabuti), "Rosácea" (1986) e "Teia" (1996), além de dezenas de poemas inéditos que combinam densidade e clareza, aspereza e beleza. O evento também lança luz sobre aspectos menos conhecidos da vida de Orides Fontela. Filha de um pai operário e analfabeto, iniciou sua jornada literária aos sete anos. Estudou filosofia na USP, foi professora primária, mas detestava lecionar. Morou no Crusp e no Centro Acadêmico XI de Agosto, teve poucos amigos e era conhecida por ser "de difícil convivência". Suas palavras revelam a dureza de uma vida marcada pela pobreza, como quando morou na Cesário Mota ao lado do Minhocão, tendo a luz cortada várias vezes por falta de pagamento. O destino trágico da poeta também é abordado, falecendo em 12 de outubro de 1998, vítima de tuberculose, no Sanatorinhos de Campos do Jordão. Quase foi enterrada como indigente, mas um exemplar de seu livro "Teia", encontrado por uma enfermeira, evitou esse desfecho. Orides Fontela amou gatos, mas não teve a mesma afinidade com as pessoas, sendo atropelada quatro vezes ao longo de sua vida. Em suas próprias palavras, Fontela expressou: "Quero morrer sem obedecer a ninguém, sou o próprio coração selvagem". Ela lamentou a necessidade de viver de prosa, cuidando da vida e transformando o verbo em verba. Em um país que a tratou não apenas como poeta, mas como um caso humano, ela refletiu sobre o cansaço do folclore que a envolvia, destacando que seu maior fracasso era não ser ateia.

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